terça-feira, 22 de dezembro de 2009
Passos passados?
terça-feira, 15 de dezembro de 2009
Se até lá, Feliz Natal
Há quase um mês não passava por aqui, uma vez que as atividades de fim de período me ocupavam de um modo inevitável. Não passei por aqui ainda que existissem ideias e assuntos sobre os quais quisesse falar e que se perderam no tempo e no espaço – uma pena ( ao menos para mim que faço desse espaço um dos meus lugares de esteio). E, antes de qualquer outra coisa, peço desculpas por ser esse texto um dos mais pessoais que venho escrever – ainda assim acredito e torço para que ele, também, lhes seja útil - e que surge como tentativa de dar uma resposta à pergunta:
“O que o ano de 2009 representa na sua vida?”
Muitas vezes não nos permitimos pensar sobre o que vivemos, como o vivido nos afeta e como ele nos pode ser representativo – dotado de significado pessoal. Compartilho da opinião de muitos que a afirmam a rapidez com que o tempo passa, todavia – mesmo que veloz – não posso afirmar que não o vivenciei. Olho para acontecimentos do inicio do ano e os vejo com um distanciamento histórico que me assusta ao perceber que se passaram onze meses, no máximo. Me choca a intensidade (visceral, algumas vezes) com que foram vividos e o quanto eles modificaram meu modo de ser e de ver as coisas. Me provoca a quantidade de situações vivenciadas e acumuladas em tão curto periodo de tempo.
2009 representa um ano de escolhas que, algumas vezes, foram acertadas. Ano em que amigos, circunstancialmente, se afastaram de um modo doloroso. Ano de decisões que me marcam e que me repercutem. Amigos que se afastaram. Amigos que se (re)aproximam.
2009. Um ano intenso. Um ano de presenças. Um ano de presente: ganhei experiências, ganhei diálogos e reflexões, cresci na emoção e, acima de tudo, ganhei amigos – o maior ganho que poderia ter tido nesse ano que começa a fechar suas portas. Amigos. Pessoas que, simultaneamente, se diferenciam e se assemelham comigo; que compartilham opiniões e que me fazem crescer com os pontos de vistas e comportamentos distintos dos meus.
Amigos que se fazem presentes em meu cotidiano de modo fascinante. Fascínio que entrevejo mesmo que sobrecarregado de atividades e que se expressa no convite ao comer juntos ou dividir simbolicamente a própria casa – algo de muito significativo para mim. Amigos.
O ano termina e traz consigo a esperança de dias mais felizes e plenos – ainda que movimentados e, às vezes, tumultuados. Esperança que não é ingênua quando se tem a certeza de que estamos na estrada. Em caminho.
Sempre.
“Ela vai voltar, vai chegar(...)
Ela vem e ninguém mais bela
Vem em minha direção”
segunda-feira, 16 de novembro de 2009
Quelques jours en retard
"Demorei a sair. O domingo se vai com a chuva.
Nos últimos tempos, tenho buscado a realidade com olhos outros, uma tentativa de ver o mundo com mais clareza. De ver o sentido das coisas. Percebo que isso não é fácil e, para tanto, conto com o apoio de amigos que se dispõem a me ouvir - ainda que eu demore a dividir coisas minhas e não as queira dividir com todos - e ler minhas divagações. Não me é fácil ver (é para alguém?). Carrego diante dos olhos opiniões, preconceitos e medos. De conhecer. De saber. De viver. É difícil encontrar o sentido das coisas. Livrar-se de pesos e dar-se completo às circunstâncias.
Il faut être présence en entier. Para encontrar o sentido é preciso julgar, livre de medidas. É preciso comparar. É inusitado perceber como situações surgem em nossas vidas sem que esperemos e que nos fazem ver que um mundo diferente é possível. Viver não é algo que nos é dado a priori com inicio, meio e fim a cumprir. Podemos escolher, escolhemos constantemente e me perturba entender qual é o limite de nossas escolhas. Até onde nos governamos? Até qual limite há um governo racional? (Racional?!?!) Algo que não deveria estar acontecendo ainda causa desordem.
O sol se esconde a tarde, fim do dia. Sexta-feira. Fim de semana. O sol se esconde por detrás da serra. A escuridão aponta para a minha falta de caminho. Descaminho. Impossibilidade. O caminho sempre existe ainda que em repouso; caminho.Mecanicamente ocupado por inúmeras atividades, percebo que não sou o mesmo: ensaio me preocupar menos com as obrigações e compromissos - não os deixo de assumir e cumpri-los, mas descubro que não são tão essenciais quanto pareciam - quando consigo me livrar dos compromissos vazios de significado ou transmuto o significado daqueles que não posso (e não quero) abandonar, me vejo diante da beleza de uma companhia e me alegro. Humilde alegria. Me sujo de vida, finalmente. Pensei (pensaram) que isso nunca aconteceria e tento, às custas de incompreensões, viver um novo caminho. Para muitos, há algo que me desencaminha, pelo contrário, caminho pela mesma trajetória. Só que mais limpa. Menos pesada. Mais clara e feliz. Talvez.
Caminho com um sentimento de humana solidão que preferia não sentir. Procuro entendê-lo. Dar sentido para que seja justo vivê-lo. Me sinto quase afogado pela situação em que me acho. Preferia me sentir inundado pela música. Da vida.
A vida é feita de música. Deslumbrante. "
Palavrório
Talvez essa frase de Guimarães Rosa fosse suficiente para dizer grande parte daquilo que gostaria sobre a língua, porém não me basta. E se não me basta, vou dizer mais. Prefiro caminhar entre letras e números para ver se encontro o que quero. Angústia de um caminho labiríntico e solitário.
Nos limites do meu conhecimento, coube aos gregos a tentativa de buscar e de querer entender o que é o homem em si. Essencialmente. Problema que perturba muitos até hoje - inclusive a mim. Presumir uma essência permite que seja buscado o mínimo fundamento humano que, sob o meu ponto de vista, se encontra na palavra.
Nascemos e vivemos no mundo do discurso. Discurso nosso e discurso do outro. Um mundo em que a interpretação é possível e, na maioria das vezes, inevitável. Nascemos no mundo da palavra do outro. Antes de nascermos, a maioria de nós já tinha uma história, ainda que não concretizada na dimensão temporal e narrada (verbalmente) por alguém. Somos verbos em potência quando nascemos. Paradoxo. Somos paradoxo. Somos palavras que quando ditas não retornam para a boca de quem as proferiu sem que tenham afetado alguém de um modo qualquer.
Somos, também, comunicação. Somos trabalho conjunto. Aquilo que escrevo pode não ser o mesmo que você lê. O diálogo escrita- leitura permite que a obra tenha um valor maior, para além da pequenez de quem lê e pequenez maior de quem escreve. Através da palavra podemos (vi)ver um mundo, desde que ela nos liberte. Não nos prenda. Conhecer um idioma representa a possibilidade de nos fazermos outros. Conhecer outra língua permite que eu compreenda melhor a beleza daquilo que eu falo em idioma materno e que consiga me mobilizar e ver que o sentido está para além do expresso. Permite me exprimir de um modo que não poderia com palavras daquilo que é meu.
Somente a palavra poderá levar a conhecer o que realmente somos, já que "a linguagem e a vida são uma coisa só. Quem não fizer do idioma o espelho de sua personalidade não vive." Escrevo tentando encontrar a razão das coisas. Escrevo buscando o infinito.
Escrevo para me livrar da emoção.
quinta-feira, 5 de novembro de 2009
La vie paraît quelquefois invraissemblable
terça-feira, 13 de outubro de 2009
Relire
Relemos pelo prazer da leitura, superação de tempo e espaço. Relemos porque queremos reativar algo que sentimos quando lemos uma obra pela primeira vez. Relemos porque nos esquecemos do argumento ou fio condutor do livro. Relemos para nos lembrar de fatos que ocorreram simultaneamente à leitura daquele texto. Porque ele nos lembra alguém. Enfim, na maioria das vezes, relemos para lembrar. Porém, nos últimos dias, reli pelo prazer e também para entender uma resposta. Entendo melhor.
Luísa (Quase uma história de amor). Maria Adelaide do Amaral. Já havia lido alguns (outros três, somente) livros dessa autora portuguesa que se radicou no Brasil ainda menina e se fez célebre pelas peças de teatro e minisséries, as últimas produzidas pela Globo. Aos meus amigos – romance que deu origem a minissérie – Tharsila – uma homenagem teatral à pintora, do Amaral – e a novela O Bruxo. Autora de um texto poético e enxuto sem que ele se torne árduo e lento, Maria Adelaide parece conseguir atingir aquilo que é comum na geração daqueles que viveram a ditadura militar brasileira, a busca de um sentido válido nos dias de hoje, sem deixar de comover leitores que não viveram aquela época, como eu. “Luísa” é um livro em que a protagonista não se manifesta, a conhecemos por meio daquilo que seu círculo de convivência (nem sempre amiga) diz, de sua correspondência (bilhetes trocados), e dos rascunhos de sua agenda. Uma protagonista não aparente parece tornar a narrativa sem sentido e (até) ilógica, todavia não é isso que acontece: ela se faz conhecer no enigma, no jogo de esconde-e-mostra, no brincar entre a luz e a sombra. É belo, pois a vida é assim: um brincar incessante de se dar e se esconder. Caminhamos pelas páginas tentando entrever Luísa em algum detalhe. Ela me é instigante, porque não se dá claramente, inteira e me convida sempre à pergunta. Ao fim das páginas, consigo vê-la rapidamente. Mas não a conheço, completamente.
É fabuloso perceber em páginas impressas aquilo que vivemos; escrever – para quem o faz bem, é claro – tem algo de profético porque aponta para aquilo que é claro, e por ser claro é difícil de ser visto. Ela atrai porque não se dá inteira e acabada, pronta. Convida ao diálogo e ao fazer companhia sem motivos ou objetivos. Ver-se diante da beleza do estar junto e se alegrar.
Reli buscando uma resposta. Encontrei.
“Quanto à adversidade de nosso destino, devo concordar com você. Podemos ser tudo, menos timoneiros de nosso barco. Tragados pela moira, impelidos (e impedidos) pelas circunstâncias, não passamos de pequenos títeres com efêmeras impressões de onipotência e, definitivamente, no limite da sobrevivência.” (pp. 219)
sábado, 3 de outubro de 2009
Pensamentos entrecortados
Um passo para trás? Por que será?
Vou pensar.”
Ando aéreo. Ar. O vento. Tempo de viver. Mais do que antes. Viver.
Refletir não é algo simples (pelo menos quando eu tento), pressupõe trabalho e dedicação pessoal e deve partir da nossa realidade. Realidade que não é algo unicamente material - há algo para além do material que é nosso - mas quando os dias estão quentes se torna muito difícil pensar, de verdade, sobre alguma coisa. Olhar o mundo com os olhos tentados de elucidação. Na tentativa de apontar algo para si ou para os outros.
Mais uma vez venho falar do tempo. Algo que tem me incomodado, me provocado no sentido em que nem sempre é fácil suportar o que ele traz consigo. É preciso saber (aprender) a lidar com aquilo que a História nos entrega. Às vezes, pensamos - ou melhor, penso - que a História é algo maior do que aquilo que sou; que não tenho opção ou controle sobre as coisas e sua realidade no tempo. Historicidade. E ela á maior do que minha pequenez, realmente; mas nada impede a existência da possibilidade de (re) construção pessoal.
Percebo que fazemos muitas coisas porque a maioria faz e não perguntamos se são importantes para nós e quando fazemos aquilo que realmente desejamos corremos o risco da incompreensão. Paradoxalmente, o que parecia real já não me é tão real assim e aquilo que concretamente não foi real, surge com uma possibilidade. Impossível.
Dias quentes. Céu incrivelmente azul. Gosto de vida. Azul.
Hope os the other side of History.
terça-feira, 22 de setembro de 2009
Primavera Presente
O dia seguia como o planejado, nada fora do comum. Para minha cômoda satisfação. Deveria ir até o outro campus para resolver algumas questões e sou pego pela chuva no meio do caminho. Chuva muito forte e incomum para essa época do ano, mas que me permitiu uma experiência inusitada e, por isso, enriquecedora. O inusitado nos enriquece porque se choca com nossa realidade, faz com que ela se modifique. Se transmute essencialmente. Fico preso por alguns minutos com o grupo de alemães que em karawane visitam a universidade onde estudo e me assusto com nossa similaridade.
Somos muito diferentes por vários motivos: o lugar onde nascemos e nossa aparência física, nossa educação e modo de vida, o idioma que falamos e o consequente modo como (vi)vemos o mundo. Somos diferentes e intimamente comuns. Sou um completo leigo em língua alemã e quando não conseguimos nos envolver na conversa alheia, o que fazemos? Passamos a observá-los. E como é bom observar desprentenciosamente. Observei os alemães por alguns instantes, silenciosamente - ainda que com uma louca vontade de interagir com eles. Observei-os e superei a barreira idiomática e indo de encontro ao mundo babélico os compreendi. A língua não nos dividiu, aliás, a falta dessa compreensão permitiu que eu me juntasse com eles. Eles falavam entre si: alemão, inglês e espanhol, e incrivelmente se comunicavam, se faziam entender pela universalidade do gesto. O gesto do afeto. O gesto de defesa. O gesto de compreensão. Um gesto de desamparo: um grupo de pessoas em um mundo de significados que não é o deles e que, ainda assim, se fazem entender. Magicamente. Porque inexplicável. A doçura do gesto que supera a palavra falada, já que esta é apenas ferramenta para a conversa. O diálogo é do campo dos gestos que, mesmo sendo primitivos, apontam para o simples, para o essencial.
Dialogar é colocar-se inteiro, com seus gestos. Dialogar é dar-se no olhar.Como presente. Utilizar a palavra para atingir (ou ao menos tentar) aquilo que está para além dela. Para dialogar, não é preciso palavras. No diálogo há espaço para aquilo que não cabe na conversa. Há uma trégua para o fundamentalmente necessário.
Precisamos de uma trégua. Dialogada.
sexta-feira, 4 de setembro de 2009
Incompletude
Setembro chegou, primavera já vem. O mês muda e com ele a estação. (Qual?)Rapidamente, caminho em direção ao fim do ano e uma pergunta me vem como a letra da música: qual a boa nova, a nova alegria, a esperança que carrego comigo? O que estou colhendo e que plantei outrora? O tempo parece não existir, mas é inevitável. A sua passagem é algo que não se pode deter. Parece não existir, mas nos é real. O tempo que nos enconde na História e que por isso nos faz homens. Somos poeira de estórias. Marcas de vida e realidade no tempo. O tempo cronológico. O tempo relativo. O tempo pessoal. O tempo, sucessivo presente. Presente. Verbo e objeto. É por meio dele que percebo que tudo passa – ainda que não espere pela mudança – mas antes que as coisas passem, elas florescem e frutificam, trazendo alegria. Experiência de beleza. A cada dia percebo com mais clareza que há algo de belo - há algo que precisamos viver - escondido nas coisas vividas: é possível perceber o belo no cotidiano, ainda que ele rompa com o pré-estabelecido ou com o sonhado, com a paradoxal rotina de sonho e realidade. É possível enxergar a beleza nas grandes experiências que nos machucam e fazem sofrer. Nas pequenas experiências que nos fazem sorrir. Perceber a existência. A presença da vida.
“Primavera soprando um caminho mais feliz”
quinta-feira, 3 de setembro de 2009
O dia em que tudo vai acabar
domingo, 30 de agosto de 2009
Fome, trabalho e arte
sábado, 29 de agosto de 2009
Ontem, hoje e por enquanto
É preciso falar, mas por enquanto silencio.
É preciso dizer, mas ainda não sei como.
Há o que dizer, mas é preciso esperar.
Espere.
O tempo corre e a hora sempre chega.
A hora. De dizer.
quinta-feira, 30 de julho de 2009
O fim das férias e as divagações de um pretenso psicólogo
Com o retorno das aulas, vou me encontrar novamente com aqueles que há um ano e meio optaram comigo por estudar Psicologia e com aqueles que conheço há um semestre e com os quais me vinculei, intensa e inesperadamente. Ainda que convivamos com uma freqüência constante muitos deles não sei quem são. Quem são esses? Quem são esses que cursam Psicologia?
Desde 2008, estou na faculdade e parece que o curso ainda não começou. Será assim até o fim? Será que no fim do curso vou descobrir que sei quase nada ainda que tenha lido, vivido e, provavelmente, estudado bastante? A probabilidade de acerto é grande, uma vez que não há somente uma prática de saber psicológico. Psicanalistas freudianos, junguianos, lacanianos, kleinianos; behavioristas metodológicos, radicais; fenomenólogos existenciais, humanistas; gestaltistas...Infinitos fazeres que refletem a diversidade humana e que mudam profundamente nosso jeito de ver o mundo e suas coisas. Um universo escondido em uma sala de aula, em meus amigos, em cada teoria... a beleza de ser e trabalhar o humano.
Quem são esses que cursam Psicologia? Espero que apaixonados pela vida humana.
Psicologias...um dia vou entender disso.
terça-feira, 28 de julho de 2009
Era uma vez...
segunda-feira, 27 de julho de 2009
Considerações (muito pessoais) sobre suicídio
Chorei por ter despedaçado as flores que estão no canteiro(...)
A dor vai curar estas lástimas."
?
sábado, 25 de julho de 2009
Entre o msn e meus pensamentos
terça-feira, 21 de julho de 2009
Escrever...pra quê?
Ítalo Calvino
O que me causa estranhamento?
Um insight (ideia fora de hora) que tive e que ainda não consigo responder... O que me causa estranhamento?!?! Eureka!!!O processo de escrita me causa estranhamento. Me incomoda, me choca e, ilogicamente, corresponde às minhas necessidades.
Há muito tempo penso em escrever com dedicação, consciência e disciplina já que acredito que para escrever bem é necessário muito mais de trabalho do que de inspiração. Escrita é trabalho. Há muito me interesso pela escrita ficcional, ainda que pareça mais fácil escrever sobre mim mesmo e aquilo que me acontece cotidianamente. A escrita diária permite que notemos com mais atenção como nossa vida é povoada de fatos inusitados e de atores com personagens interessantes. Somos personagens, vilões e mocinhos, de nossa própria existência. Mas pela dúvida entre escrever ficção ou sobre realidade (e também pela preguiça) nunca escrevi. Quando adolescente, dizia muitas vezes que um dia (não sei quando, até hoje) iria escrever um livro com minhas memórias, uma tentativa que já nasce fracassada de contar como vejo minhas coisas e meu louco tempo.
Esse texto surgiu depois que falei com Sarinha que estava brincando de escrever e ele ofereceu um espacinho em seu blog para que eu me objetivasse...resolvi criar coragem e fazer o meu blog.Ah...objetivasse?!?! Tornasse aquilo que penso um objeto, uma coisa... Que se tornasse real, ainda que no mundo virtual minhas palavras. Palavra-coisa.
O produto da discussão sobre escrever sobre aquilo que é real ou aquilo que é ficcional é expressa de um modo muito interessante e belo num livro que acabo de reler: “Uma vida inventada (memórias trocadas e outras histórias)”, de Maitê Proença (sim...da atriz Maitê Proença que escreve muito bem.Intensa.Lírica.). Um livro interessantíssimo em que não percebemos bem ao certo onde se encerra a realidade e quando ela dá lugar à ficção. Um livro fantástico em que a realidade dialoga com a imaginação e que nos mobiliza a perceber o quanto aquilo que chamamos de real tem de mágica ficcional. O quanto aquilo que vivemos quando contado e exposto no papel se torna uma outra realidade que supera a miséria – não é bem essa a palavra – de nossa dimensão humana. O quanto da realidade esconde de ficção, e vice-versa.
A escrita me causa estranhamento por apontar aquilo que é essencialmente humano.
Às vezes, sinto quase que uma necessidade física, biológica de escrever algo. Humano. De dizer, de gritar, mas para isto é preciso coragem e força para mobilizar-se, libertar-se de amarras (ainda que não-percebidas ou invisíveis). Por que escrever? Ainda não sei. Mas hoje se faz necessário. Urgente.
Cursar Psicologia não me deixa isento de pensar sobre as causas (não falo de etiologia psíquica de patologias) – pelo contrário – e por isso, acredito que há nessa atividade algo de catártico (no sentido leigo do termo). Terapêutico. Um meio de canalização de meus pensamentos que frequentemente assumem caráter de não-linearidade. Sinto necessidade de escrever, de dizer: uma dúvida, um pensamento, uma estória, um fato, um pedido. De me organizar, de dar lógica racional ao que é irracional. A existência. Irracional. Irascível. Enfim. Tentar elucidar algo que ainda não sei bem...discussão profunda e inconclusa com uma linguagem pretensamente profunda,mas fracassada.
Como trilheiro que se embrenha em uma floresta desconhecida, escrevo sem saber muito bem de onde saio; certamente, sem saber onde chegarei; sabendo somente que há um caminho a percorrer. Escrita,caminho escondido que só se revelará ao final.
Ah...pra quem não conhece Ítalo Calvino: autor nascido em Cuba, que viveu toda sua vida na Itália. E leiam Maitê Proença, ela é ótima.