terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Passos passados?

Como é dificil ver que as coisas mudam com a distância e com o tempo...tudo não tem a mesma beleza e brilho de antes. O tempo e a distância fizeram com que aquilo que existia se tornasse menos visivel e os laços que nos uniam parecem cada vez mais "esparsos".
Saudade da viva animação daqueles que conheci quando criança. Será que foram eles que perderam a graça ou fui eu que me anestesiei diante da presença deles? É dificil perceber que a vida passou para eles também e que não somos mais os mesmos. Ainda que queira ou planeje. Ainda que eles queiram ou me peçam por isso.Viver longe do que acredito ser essencialmente meu não é fácil e isso não impede que as coisas sejam minhas.
A alegria é brasa. A felicidade promessa de fogo perene.

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Se até lá, Feliz Natal

Cheiro de grama e de terra molhada. Dezembro chega anunciando o Natal e o Ano Novo que se aproxima. Tentativa humana de recomeço em meio ao correr da vida.
Há quase um mês não passava por aqui, uma vez que as atividades de fim de período me ocupavam de um modo inevitável. Não passei por aqui ainda que existissem ideias e assuntos sobre os quais quisesse falar e que se perderam no tempo e no espaço – uma pena ( ao menos para mim que faço desse espaço um dos meus lugares de esteio). E, antes de qualquer outra coisa, peço desculpas por ser esse texto um dos mais pessoais que venho escrever – ainda assim acredito e torço para que ele, também, lhes seja útil - e que surge como tentativa de dar uma resposta à pergunta:
“O que o ano de 2009 representa na sua vida?”
Muitas vezes não nos permitimos pensar sobre o que vivemos, como o vivido nos afeta e como ele nos pode ser representativo – dotado de significado pessoal. Compartilho da opinião de muitos que a afirmam a rapidez com que o tempo passa, todavia – mesmo que veloz – não posso afirmar que não o vivenciei. Olho para acontecimentos do inicio do ano e os vejo com um distanciamento histórico que me assusta ao perceber que se passaram onze meses, no máximo. Me choca a intensidade (visceral, algumas vezes) com que foram vividos e o quanto eles modificaram meu modo de ser e de ver as coisas. Me provoca a quantidade de situações vivenciadas e acumuladas em tão curto periodo de tempo.
2009 representa um ano de escolhas que, algumas vezes, foram acertadas. Ano em que amigos, circunstancialmente, se afastaram de um modo doloroso. Ano de decisões que me marcam e que me repercutem. Amigos que se afastaram. Amigos que se (re)aproximam.
2009. Um ano intenso. Um ano de presenças. Um ano de presente: ganhei experiências, ganhei diálogos e reflexões, cresci na emoção e, acima de tudo, ganhei amigos – o maior ganho que poderia ter tido nesse ano que começa a fechar suas portas. Amigos. Pessoas que, simultaneamente, se diferenciam e se assemelham comigo; que compartilham opiniões e que me fazem crescer com os pontos de vistas e comportamentos distintos dos meus.
Amigos que se fazem presentes em meu cotidiano de modo fascinante. Fascínio que entrevejo mesmo que sobrecarregado de atividades e que se expressa no convite ao comer juntos ou dividir simbolicamente a própria casa – algo de muito significativo para mim. Amigos.
O ano termina e traz consigo a esperança de dias mais felizes e plenos – ainda que movimentados e, às vezes, tumultuados. Esperança que não é ingênua quando se tem a certeza de que estamos na estrada. Em caminho.
Sempre.

“Ela vai voltar, vai chegar(...)
Ela vem e ninguém mais bela
Vem em minha direção”

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Quelques jours en retard

"Demorei a sair. O domingo se vai com a chuva.

Nos últimos tempos, tenho buscado a realidade com olhos outros, uma tentativa de ver o mundo com mais clareza. De ver o sentido das coisas. Percebo que isso não é fácil e, para tanto, conto com o apoio de amigos que se dispõem a me ouvir - ainda que eu demore a dividir coisas minhas e não as queira dividir com todos - e ler minhas divagações. Não me é fácil ver (é para alguém?). Carrego diante dos olhos opiniões, preconceitos e medos. De conhecer. De saber. De viver. É difícil encontrar o sentido das coisas. Livrar-se de pesos e dar-se completo às circunstâncias.
Il faut être présence en entier. Para encontrar o sentido é preciso julgar, livre de medidas. É preciso comparar. É inusitado perceber como situações surgem em nossas vidas sem que esperemos e que nos fazem ver que um mundo diferente é possível. Viver não é algo que nos é dado a priori com inicio, meio e fim a cumprir. Podemos escolher, escolhemos constantemente e me perturba entender qual é o limite de nossas escolhas. Até onde nos governamos? Até qual limite há um governo racional? (Racional?!?!) Algo que não deveria estar acontecendo ainda causa desordem.

O sol se esconde a tarde, fim do dia. Sexta-feira. Fim de semana. O sol se esconde por detrás da serra. A escuridão aponta para a minha falta de caminho. Descaminho. Impossibilidade. O caminho sempre existe ainda que em repouso; caminho.Mecanicamente ocupado por inúmeras atividades, percebo que não sou o mesmo: ensaio me preocupar menos com as obrigações e compromissos - não os deixo de assumir e cumpri-los, mas descubro que não são tão essenciais quanto pareciam - quando consigo me livrar dos compromissos vazios de significado ou transmuto o significado daqueles que não posso (e não quero) abandonar, me vejo diante da beleza de uma companhia e me alegro. Humilde alegria. Me sujo de vida, finalmente. Pensei (pensaram) que isso nunca aconteceria e tento, às custas de incompreensões, viver um novo caminho. Para muitos, há algo que me desencaminha, pelo contrário, caminho pela mesma trajetória. Só que mais limpa. Menos pesada. Mais clara e feliz. Talvez.

Caminho com um sentimento de humana solidão que preferia não sentir. Procuro entendê-lo. Dar sentido para que seja justo vivê-lo. Me sinto quase afogado pela situação em que me acho. Preferia me sentir inundado pela música. Da vida.

A vida é feita de música. Deslumbrante. "

Palavrório

"O idioma é a única porta para o infinito, mas infelizmente está oculto sob montanhas de cinza."


Talvez essa frase de Guimarães Rosa fosse suficiente para dizer grande parte daquilo que gostaria sobre a língua, porém não me basta. E se não me basta, vou dizer mais. Prefiro caminhar entre letras e números para ver se encontro o que quero. Angústia de um caminho labiríntico e solitário.
Nos limites do meu conhecimento, coube aos gregos a tentativa de buscar e de querer entender o que é o homem em si. Essencialmente. Problema que perturba muitos até hoje - inclusive a mim. Presumir uma essência permite que seja buscado o mínimo fundamento humano que, sob o meu ponto de vista, se encontra na palavra.
Nascemos e vivemos no mundo do discurso. Discurso nosso e discurso do outro. Um mundo em que a interpretação é possível e, na maioria das vezes, inevitável. Nascemos no mundo da palavra do outro. Antes de nascermos, a maioria de nós já tinha uma história, ainda que não concretizada na dimensão temporal e narrada (verbalmente) por alguém. Somos verbos em potência quando nascemos. Paradoxo. Somos paradoxo. Somos palavras que quando ditas não retornam para a boca de quem as proferiu sem que tenham afetado alguém de um modo qualquer.
Somos, também, comunicação. Somos trabalho conjunto. Aquilo que escrevo pode não ser o mesmo que você lê. O diálogo escrita- leitura permite que a obra tenha um valor maior, para além da pequenez de quem lê e pequenez maior de quem escreve. Através da palavra podemos (vi)ver um mundo, desde que ela nos liberte. Não nos prenda. Conhecer um idioma representa a possibilidade de nos fazermos outros. Conhecer outra língua permite que eu compreenda melhor a beleza daquilo que eu falo em idioma materno e que consiga me mobilizar e ver que o sentido está para além do expresso. Permite me exprimir de um modo que não poderia com palavras daquilo que é meu.
Somente a palavra poderá levar a conhecer o que realmente somos, já que "a linguagem e a vida são uma coisa só. Quem não fizer do idioma o espelho de sua personalidade não vive." Escrevo tentando encontrar a razão das coisas. Escrevo buscando o infinito.
Escrevo para me livrar da emoção.

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

La vie paraît quelquefois invraissemblable

Os dias começam a ficar cada vez mais quentes. E belos.

Novembro. Dia de finados. Morte. Novembro começa, convidando para comemorarmos, a fazermos memória da morte. Uma comemoração não é vazia de significado, mesmo que ele não esteja patente. Novembro nos convida a olhar a morte e tentar pensar sobre ela.
Um assunto que, aparentemente, é doloroso e dificil de ser tocado por meio das palavras, mas que nos é inevitável. (Será?) É óbvio - nem tanto quanto parece - que a morte física é inevitável por mais que construamos e possamos pagar por tecnologias que podem prolongar nossa existência corpórea. Isso é surpreendente quando penso em quantos de nós já poderiam ter morrido se não fossem as tecnologias criadas pelos humanos, porém há no outro lado da moeda algo que me choca e provoca: enquanto muitos tem a vida prolongada, outros tantos vivem um pouco e o que vivem não tem a qualidade suficiente que, pretensamente, queremos merecer na nossa condição de animais (ditos) racionais.
Sou muito inexperiente para refletir sobre um assunto de tamanha importância, porém minha condição permite que faça mesmo que sem a qualidade necessária e desejada. A morte física é algo do qual não podemos escapar (algo inusitado, quando penso que um dia meu corpo não existirá) e que tem um caráter de pontualidade, uma vez que acontece em um tempo e espaço definidos, com personagens determinados; todavia, me comove a morte pela qual passamos constantemente - e não falo do processo de oxidação do nosso organismo através da respiração. Morremos a cada instante para que possamos continuar vivendo. Enterramos partes de nossos pensamentos, sentimentos e emoções todos os dias para que, ainda assim, continuemos a viver. E precisamos morrer todos os dias porque não conseguiríamos carregar conosco constantemente tudo o que passamos. Todos os dias, nos fazemos novas identidades porque permitimos que a morte alcance nossas representações - aquilo que nos representa e aquilo que utilizamos para que outros sejam representados. Percebo que posso não ser o mesmo de ontem, ainda que exista algo para além de tudo que permita dizer que existo e que sou o mesmo.
A morte é; e, por isso, a vida faz sentido.

terça-feira, 13 de outubro de 2009

Relire

Há alguns meses, na universidade, existia um cartaz com uma provocadora citação de Machado de Assis: “livros relidos são livros eternos”. Sim, livros relidos são eternos assim como qualquer outro. Todo livro é eterno, seja ele lido, relido ou não; ele é perene porque pode guardar consigo o olhar de (e sobre) um tempo, numa tentativa que fazemos de assegurarmos que seremos para sempre, por meio daquilo que deixamos escrito. Para além da nossa errância. Uma tentativa (como infinitas outras) de nos tornarmos concretos, historicamente reais. Livros são eternos, ainda que a leitura que façamos deles não o seja; então, por que relemos?
Relemos pelo prazer da leitura, superação de tempo e espaço. Relemos porque queremos reativar algo que sentimos quando lemos uma obra pela primeira vez. Relemos porque nos esquecemos do argumento ou fio condutor do livro. Relemos para nos lembrar de fatos que ocorreram simultaneamente à leitura daquele texto. Porque ele nos lembra alguém. Enfim, na maioria das vezes, relemos para lembrar. Porém, nos últimos dias, reli pelo prazer e também para entender uma resposta. Entendo melhor.
Luísa (Quase uma história de amor). Maria Adelaide do Amaral. Já havia lido alguns (outros três, somente) livros dessa autora portuguesa que se radicou no Brasil ainda menina e se fez célebre pelas peças de teatro e minisséries, as últimas produzidas pela Globo. Aos meus amigos – romance que deu origem a minissérie – Tharsila – uma homenagem teatral à pintora, do Amaral – e a novela O Bruxo. Autora de um texto poético e enxuto sem que ele se torne árduo e lento, Maria Adelaide parece conseguir atingir aquilo que é comum na geração daqueles que viveram a ditadura militar brasileira, a busca de um sentido válido nos dias de hoje, sem deixar de comover leitores que não viveram aquela época, como eu. “Luísa” é um livro em que a protagonista não se manifesta, a conhecemos por meio daquilo que seu círculo de convivência (nem sempre amiga) diz, de sua correspondência (bilhetes trocados), e dos rascunhos de sua agenda. Uma protagonista não aparente parece tornar a narrativa sem sentido e (até) ilógica, todavia não é isso que acontece: ela se faz conhecer no enigma, no jogo de esconde-e-mostra, no brincar entre a luz e a sombra. É belo, pois a vida é assim: um brincar incessante de se dar e se esconder. Caminhamos pelas páginas tentando entrever Luísa em algum detalhe. Ela me é instigante, porque não se dá claramente, inteira e me convida sempre à pergunta. Ao fim das páginas, consigo vê-la rapidamente. Mas não a conheço, completamente.
É fabuloso perceber em páginas impressas aquilo que vivemos; escrever – para quem o faz bem, é claro – tem algo de profético porque aponta para aquilo que é claro, e por ser claro é difícil de ser visto. Ela atrai porque não se dá inteira e acabada, pronta. Convida ao diálogo e ao fazer companhia sem motivos ou objetivos. Ver-se diante da beleza do estar junto e se alegrar.
Reli buscando uma resposta. Encontrei.

“Quanto à adversidade de nosso destino, devo concordar com você. Podemos ser tudo, menos timoneiros de nosso barco. Tragados pela moira, impelidos (e impedidos) pelas circunstâncias, não passamos de pequenos títeres com efêmeras impressões de onipotência e, definitivamente, no limite da sobrevivência.” (pp. 219)

sábado, 3 de outubro de 2009

Pensamentos entrecortados

“Vou acordar para o tempo, para o tempo parar
Um passo para trás? Por que será?
Vou pensar.”

Ando aéreo. Ar. O vento. Tempo de viver. Mais do que antes. Viver.


Refletir não é algo simples (pelo menos quando eu tento), pressupõe trabalho e dedicação pessoal e deve partir da nossa realidade. Realidade que não é algo unicamente material - há algo para além do material que é nosso - mas quando os dias estão quentes se torna muito difícil pensar, de verdade, sobre alguma coisa. Olhar o mundo com os olhos tentados de elucidação. Na tentativa de apontar algo para si ou para os outros.
Mais uma vez venho falar do tempo. Algo que tem me incomodado, me provocado no sentido em que nem sempre é fácil suportar o que ele traz consigo. É preciso saber (aprender) a lidar com aquilo que a História nos entrega. Às vezes, pensamos - ou melhor, penso - que a História é algo maior do que aquilo que sou; que não tenho opção ou controle sobre as coisas e sua realidade no tempo. Historicidade. E ela á maior do que minha pequenez, realmente; mas nada impede a existência da possibilidade de (re) construção pessoal.

Percebo que fazemos muitas coisas porque a maioria faz e não perguntamos se são importantes para nós e quando fazemos aquilo que realmente desejamos corremos o risco da incompreensão. Paradoxalmente, o que parecia real já não me é tão real assim e aquilo que concretamente não foi real, surge com uma possibilidade. Impossível.

Dias quentes. Céu incrivelmente azul. Gosto de vida. Azul.

Hope os the other side of History.

terça-feira, 22 de setembro de 2009

Primavera Presente

21 de setembro. O inverno se vai com a chuva, e é ela quem traz a primavera. O zigue-zague manhoso do tempo. A destreza da vida. Há alguns dias não escrevia, não por falta de vontade, mas por não ter encontrado algo que quisesse compartilhar, realmente. Suficientemente justo. E confesso que (hoje) escrevo sobre algo que já foi compartilhado. Isto não me representa um problema, pelo contrário. Representa o fruto de um diálogo - mais do que uma conversa - que não acontece com qualquer pessoa e não pode acontecer quando estamos preocupados com a hora ou com compromissos que deveriam ser respeitados, mesmo que a contragosto. Tenho aprendido que não é necessário agir contra a vontade. Diálogos demandam tempo. E são, cada vez mais, necessários.
O dia seguia como o planejado, nada fora do comum. Para minha cômoda satisfação. Deveria ir até o outro campus para resolver algumas questões e sou pego pela chuva no meio do caminho. Chuva muito forte e incomum para essa época do ano, mas que me permitiu uma experiência inusitada e, por isso, enriquecedora. O inusitado nos enriquece porque se choca com nossa realidade, faz com que ela se modifique. Se transmute essencialmente. Fico preso por alguns minutos com o grupo de alemães que em karawane visitam a universidade onde estudo e me assusto com nossa similaridade.
Somos muito diferentes por vários motivos: o lugar onde nascemos e nossa aparência física, nossa educação e modo de vida, o idioma que falamos e o consequente modo como (vi)vemos o mundo. Somos diferentes e intimamente comuns. Sou um completo leigo em língua alemã e quando não conseguimos nos envolver na conversa alheia, o que fazemos? Passamos a observá-los. E como é bom observar desprentenciosamente. Observei os alemães por alguns instantes, silenciosamente - ainda que com uma louca vontade de interagir com eles. Observei-os e superei a barreira idiomática e indo de encontro ao mundo babélico os compreendi. A língua não nos dividiu, aliás, a falta dessa compreensão permitiu que eu me juntasse com eles. Eles falavam entre si: alemão, inglês e espanhol, e incrivelmente se comunicavam, se faziam entender pela universalidade do gesto. O gesto do afeto. O gesto de defesa. O gesto de compreensão. Um gesto de desamparo: um grupo de pessoas em um mundo de significados que não é o deles e que, ainda assim, se fazem entender. Magicamente. Porque inexplicável. A doçura do gesto que supera a palavra falada, já que esta é apenas ferramenta para a conversa. O diálogo é do campo dos gestos que, mesmo sendo primitivos, apontam para o simples, para o essencial.
Dialogar é colocar-se inteiro, com seus gestos. Dialogar é dar-se no olhar.Como presente. Utilizar a palavra para atingir (ou ao menos tentar) aquilo que está para além dela. Para dialogar, não é preciso palavras. No diálogo há espaço para aquilo que não cabe na conversa. Há uma trégua para o fundamentalmente necessário.
Precisamos de uma trégua. Dialogada.

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Incompletude

“Quando entrar setembro, e a boa nova andar pelos campos.”

Setembro chegou, primavera já vem. O mês muda e com ele a estação. (Qual?)Rapidamente, caminho em direção ao fim do ano e uma pergunta me vem como a letra da música: qual a boa nova, a nova alegria, a esperança que carrego comigo? O que estou colhendo e que plantei outrora? O tempo parece não existir, mas é inevitável. A sua passagem é algo que não se pode deter. Parece não existir, mas nos é real. O tempo que nos enconde na História e que por isso nos faz homens. Somos poeira de estórias. Marcas de vida e realidade no tempo. O tempo cronológico. O tempo relativo. O tempo pessoal. O tempo, sucessivo presente. Presente. Verbo e objeto. É por meio dele que percebo que tudo passa – ainda que não espere pela mudança – mas antes que as coisas passem, elas florescem e frutificam, trazendo alegria. Experiência de beleza. A cada dia percebo com mais clareza que há algo de belo - há algo que precisamos viver - escondido nas coisas vividas: é possível perceber o belo no cotidiano, ainda que ele rompa com o pré-estabelecido ou com o sonhado, com a paradoxal rotina de sonho e realidade. É possível enxergar a beleza nas grandes experiências que nos machucam e fazem sofrer. Nas pequenas experiências que nos fazem sorrir. Perceber a existência. A presença da vida.
Tempo. Primavera. Flores, frutos e amadurecimento. Setembro chega, incompleto. Há algo que falta.

“Primavera soprando um caminho mais feliz”

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

O dia em que tudo vai acabar

Um dia tudo vai acabar e isso é óbvio, porque o tudo nunca existiu. Aliás, nem o nunca. Remexendo em alguns recortes de textos - guardados do tempo - encontrei um texto de agosto de 2006, de um autor chamado João Pereira Coutinho que escrevia à época na Folha de São Paulo. Me lembro que guardei esse texto porque o achei, realmente, muito bonito e significativo. Hoje o releio, me impressiono com sua beleza e o quanto ele me corresponde (ainda) hoje. Acredito que vocês devam conhecê-lo. Pela beleza.
"(...) com a devida vênia aos sábios, nada (...) invalida meu fascínio aterrador: o dia em que séculos de vida e civilização serão apenas um segundo, ou um suspiro no eterno silêncio do universo. Ter estado, ou não ter estado: apenas uma diferença gramatical. E as obras que fomos acumulando, lendo, vendo, vivendo para nossa beleza e consolação, serão apenas fantasmas sem memória ou sem gente para os recordar. As palavras todas, as imagens todas. Serão como pó mais negro que se espraia pelo vazio como uma onda de esquecimento.
Eu sei que tudó é assim. Não falo do mundo, mas falo de mim. O poeta inglês Philip Larkin, que a crítica culta persiste em desprezar, escreveu há muito o poema definitivo sobre esse confronto pessoal com o nada. Chama-se "Aubade" (1977) e retorno a ele sempre e sempre e sempre. Porque existe nas linhas de Larkin a nitidez absoluta dessa promessa absoluta: o momento em que não iremos ver nada, ouvir nada, sentir nada. A ausência de pensamento, a ausência de qualquer ausência. Não estaremos cá, não estaremos lá, não estaremos em lugar algum. No poema de Larkin, é a manhã, a certeza da manhã que regressa com sua luz tímida, que resgata a angústia pessoal da meditação insone. Temos coisas para fazer. Pessoas com quem estar. Rotinas a cumprir. Barreiras invisíveis com que adiamos a certeza luminosa do fim. Continuamos?
Sim, continuamos. Não tenho respostas, não tenho perguntas. Não tenho conselhos para dar ou vender. E expulso os desesperados como se fossem os vendilhões do meu templo. Sei apenas que o presente é este e que nele habito eu. É pouco? Não. É tudo. Porque o tempo que me resta dispensa todo o resto. E porque a noite que me espera seá sempre parte dos dias que vivi."(O dia em que tudo vai acabar, João Pereira Coutinho, agosto de 2006; jornal Folha de São Paulo)
O que tenho para dizer.Por ora.
Hoje.

domingo, 30 de agosto de 2009

Fome, trabalho e arte

Nos últimos dias, aconteceu em São João del Rei o Terceiro Festival de Literatura (FELIT) que contou com a presença de um dos autores que marcaram minha leitura há alguns anos, Frei Betto. Ele falou sobre arte e literatura, sobre nossa fome de beleza que é infindável (correspondendo assustadoramente a alguns) e me convocando a escrever sobre isso.
Fome. Vontade de alimento. Voraz, feraz, veraz. Fome de beleza que é saciada por alguns instantes pela qualidade e cuidado em uma produção artística. Qualidade que está na capacidade de chamar atenção do espectador de algum modo. De implicá-lo, de fazê-lo mobilizar-se ainda que por breves instantes durante um espetáculo. Frequentemente, isso se expressa num ficar embasbacado e pôr-se a pensar, num rir descontraído, na iniciativa de uma pesquisa (ou, apenas, na sua intenção) ou o mero entreter-se. A beleza da obra de arte está em retirar-nos de nosso tempo e espaço, em fazer-nos ultrapassar nossa dimensão momentânea. Humana. Aparentemente universalizada. A obra de arte tem um caráter inebriador. Transcendente. Saciador. Feito para a transformação. Metamórfica.
Todos, ao menos uma vez, se admiraram e comoveram por algo. Na televisão, no teatro, na biblioteca, na rua. Com a vida. Sem perceber, se comove com o trabalho de alguém para que ele se inebriasse. Sim, trabalho. Arte é trabalho, é tarefa, é dedicação a uma atividade.
Segundo o dicionário Aurélio, arte é:
- capacidade ou atividade humana de criação plástica ou musical.
- habilidade, engenho.
- ofício (em especial, nas artes manuais)
É claro e evidente que a arte não se resume a uma definição de dicionário, mas ela permite observar dois fatos. O primeiro relaciona-se com a afirmação de que a arte é algo - essencialmente - humano e tende ao caráter de universalidade. Somente o homem consegue se expressar artisticamente, talvez por ser capaz de compreender e ultrapassar o material - aquilo que é físico na obra de arte - para atingir o que comove, pela emoção. Assemelhar-se ao criador, ainda que sob condição criatural. Em seguida, a percepção de que arte é engenho ou ofício, ou seja, é algo que exige trabalho e disciplinada ação. Possivelmente, existem exemplos históricos que me contradigam: gênios que, em um ímpeto, compuseram grandes obras, mas o que me implica é perceber que pelo trabalho esmerado o homem pode agir artisticamente, pode construir algo que implique outro homem. Construir e modificar perspectivas.
Pensar num mundo com arte, pensar num mundo eternamente faminto de beleza. Com impulso suficiente para buscar sua saciação. Mobilizado e envolvido com a sua existência. O FELIT acabou, mas deixou um gostinho marginal de quero mais. De trabalhar mais, de conversar mais, de ver mais. De ver e pensar sobre um mundo diferente, com mais reflexão. Mais humano em sua essência: um mundo de trabalho e arte. Trabalhar-te.
Trabalhar-te.
É preciso.

sábado, 29 de agosto de 2009

Ontem, hoje e por enquanto

Basta.
É preciso falar, mas por enquanto silencio.
É preciso dizer, mas ainda não sei como.
Há o que dizer, mas é preciso esperar.
Espere.
O tempo corre e a hora sempre chega.
A hora. De dizer.

quinta-feira, 30 de julho de 2009

O fim das férias e as divagações de um pretenso psicólogo

Um belo dia de sol e calor. Dias quentes e de céu azul encerram minhas férias de julho – apesar do calor, as férias são de inverno -, marcam o início do meu quarto período (!) na universidade e o reencontro com meus colegas de sala e calouros. Reencontro. O fim das férias traz consigo (além das aulas, obviamente), a opção que fiz para minha futura vida profissional e, sobretudo, como modo de vida. A cada dia, percebo mais claramente que estudar Psicologia pode representar a escolha por um estilo de vida. Falo sobre isso não somente por observar a variedade de estilos de professores, mas por conhecer um pouco da heterogeneidade de meus colegas de sala, das inúmeras opiniões distribuídas entre aproximadamente 25 pessoas e das diferenças entre o pensamento de meus amigos, calouros ou veteranos, e aquele que defendo, ainda que não muito bem.
Com o retorno das aulas, vou me encontrar novamente com aqueles que há um ano e meio optaram comigo por estudar Psicologia e com aqueles que conheço há um semestre e com os quais me vinculei, intensa e inesperadamente. Ainda que convivamos com uma freqüência constante muitos deles não sei quem são. Quem são esses? Quem são esses que cursam Psicologia?
Desde 2008, estou na faculdade e parece que o curso ainda não começou. Será assim até o fim? Será que no fim do curso vou descobrir que sei quase nada ainda que tenha lido, vivido e, provavelmente, estudado bastante? A probabilidade de acerto é grande, uma vez que não há somente uma prática de saber psicológico. Psicanalistas freudianos, junguianos, lacanianos, kleinianos; behavioristas metodológicos, radicais; fenomenólogos existenciais, humanistas; gestaltistas...Infinitos fazeres que refletem a diversidade humana e que mudam profundamente nosso jeito de ver o mundo e suas coisas. Um universo escondido em uma sala de aula, em meus amigos, em cada teoria... a beleza de ser e trabalhar o humano.
Quem são esses que cursam Psicologia? Espero que apaixonados pela vida humana.

Psicologias...um dia vou entender disso.

terça-feira, 28 de julho de 2009

Era uma vez...

Sarinha, esse texto é seu...
"Era uma vez uma menina. Uma menina chamada Morena, que morava no interior, gostava de brincar com seus primos e amava os animais. Gostava de verdade...gostava de ir para o sítio que a família tinha próximo da cidade só para brincar com os cavalos, com os cachorrinhos e,acima de tudo, com os patos.
Ventava.Era uma tarde de sol e céu azul, ventava bastante e parecia que o tempo ia mudar, o Pai - que tinha ido até o sítio buscar verduras e legumes para serem vendidos na cidade- trouxe para Morena um presente. Um patinho.
- Um patinho, papai. Que lindo!
- É pra você, minha menina.
- Obrigada.
Um patinho que tinha nascido há menos de uma semana e que era realmente uma gracinha. Um patinho lindo.O Patinho.Brincaram, brincaram e a menina se divertiu como nunca. Morena brincou com ele a tarde toda e não queria deixá-lo quando chegou a hora de tomar banho, jantar e dormir...
- Mas papai...
- Deixa,Morena. Amanhã você vai poder brincar com ele o dia inteirinho...
Mas o Pai se enganou. O vento da tarde anterior trouxe nuvens e frio, o Patinho acordou abatido e distante...nem parecia aquele patinho alegre e ativo do dia anterior. Não queria comer... Triste.
Morena ficou com o Patinho durante todo o dia : deu comida e água na boca, ou melhor, no bico...Morena lhe deu carinho e afeto. Mas, ele parecia não melhorar, pelo contrário, estava cada vez pior... O dia passou assim.
...
- Papai...
- Vamos, menina. Já é tarde... Vá se deitar! - e ela foi.
Mais um dia acordou, o Patinho dormiu.
A menina sonhou.
E foram felizes."

segunda-feira, 27 de julho de 2009

Considerações (muito pessoais) sobre suicídio

"Olhei até ficar cansado de ver os meus olhos no espelho,
Chorei por ter despedaçado as flores que estão no canteiro(...)
A dor vai curar estas lástimas."

?

Suicídio. Em apenas dois meses, dois primos tentaram suicídio: um do lado paterno, outro do lado materno. Dois primos fracassaram na tentativa de pôr fim à vida, além de ficarem com o estigma (familiar) daqueles que quiseram morrer e agiram em direção a isso. Cada qual quis adiantar próprio fim por motivos e meios diferentes. Os motivos são pessoais demais, mas os meios não: a primeira, tomou um coquetel de remédios e se alcoolizou - foi encontrada desmaiada em casa e encaminhada para um hospital -; o outro se alcoolizou, saiu sem rumo pela rodovia e foi pego pela polícia (penso que não queria se matar, mas ser morto por um outro carro.Fracasso.). Fracasso na tentativa de pôr fim em si mesmo e mais um problema para resolver (agora, com o núcleo familiar mais próximo). Por que tentaram se matar?
- Por que as pessoas se matam? - pergunta o aluno, disciplinado.
- Para pôr fim em uma dor maior que o próprio existir. - responde o professor, leigo.
E por que não aceitaram aquela que era, até então, a última vontade de meus primos? - pergunto eu, curioso.
Acredito que suicidar-se é mais que colocar fim, de matar uma dor, pelo contrário é eternizar a dor com a morte do sujeito. Suicidar-se é dar papel de protagonista ao seu próprio sofrimento - um sofrimento que exige que tudo seja coadjuvante à sua atuação. O motivo. Os meios. O próprio sujeito...o eu-sofredor deve prevalecer ainda que tudo sucumba.
Ver dois primos jovens (a mais velha, com 30 anos) tentarem se matar, me faz perguntar quais são as dores que fariam que eu me matasse. Longe de mim! A vida pra mim não é opção, é condição: vivo independente de meu querer... e sou muito feliz assim. Mas posso escolher como vivo. Posso enfrentar as intempéries do meu viver ou me submeter a elas - ainda que me martirize, me puna e sofra, escolho a primeira opção. Acredito que o suicídio pode sinalizar um fracasso no modo pelo qual decidi levar a vida.
Quanto aos meus primos, estão bem (acho, não convivo muito com eles).
Me matar? Nããão.
A vida é boa demais, contudo. Com tudo.

sábado, 25 de julho de 2009

Entre o msn e meus pensamentos

"A vida inteira eu quis um verso simples..."
Por motivos que conheço bem, nunca fui muito fã de computador e adepto das frequentes,infinitas e inevitáveis inovações tecnológicas (aliás,nem gosto muito do controle que elas podem exercer sobre nós).Prova disso é que relutei por anos para não me tornar vítima do celular ou do msn. Hoje sou dependente dos dois, particularmente, do segundo.Conversas via msn.Não acredito, por um lado, que o msn seja um meio de comunicação tão eficiente quanto parece (concordando com um amigo), todavia, durante essas férias ele tem se apresentado como uma ferramenta muito útil para manter contato com pessoas importantes pra mim e que têm colocado questões que me levam a pensar - como sempre. É impossível não pensar.Vale ressaltar que não é um pensar sistemático,mas muito mais ficar revendo situações,imaginar outras...ou seja,não fazer algo com tanto peso no acertar ou no estar correto - afinal, férias são para isso.Para ócio.Imaginativo.Enfim,uma das questões diz respeito a diferença,ou melhor,as diferenças na manutenção de um relacionamento.
Duvido que exista alguém que não tenha pensado ao menos uma vez: "Os opostos realmente se atraem?" ou, então, "Será que eu daria certo com alguém parecido comigo?".Não sei se seria tão fácil quanto parece conviver com o próprio espelho encarnado no companheiro...conviver com as próprias falhas, exageros e fraquezas com uma frequência quase incômoda,mas também acho difícil conviver com alguém que se oponha totalmente ao meu jeito de ser. Em suma, relacionar-se pode ser algo muito complicado.Depende das pessoas.Duas.Ou melhor,da pessoa.Uma.
Quando estamos em uma situação nova, inevitavelmente, nos juntamos com aquilo que é parecido conosco pela facilidade de convivência; é mais fácil nos adequarmos com nossos pares. Com o tempo,podemos perceber que o parecido não é tao semelhante quanto parecia e, então, vem o doloroso afastamento que aparentemente acontece de uma hora pra outra. E nos adequamos com outros.
Mas a dinâmica pode ser outra: incompreensivelmente,somos atraídos pelo contrário, pelo oposto e aí a química funciona.Os opostos se atraem e podem até se completar.Como saber qual a concentração adequada para que o que reage perfeitamente não se torne algo explosivo? Não há como saber,salvo se experimentarmos. É preciso experimentar...pode ser que dê certo.Aquilo que aparentemente se opõe pode atrair e criar um laço difícil de ser desatado...pode ser que dê certo.Pode atrair.Sensivelmente.Fascínio da rota.Caminhos da vida.
Pensei,pensei e não cheguei a conclusão alguma - como na maioria das vezes - mas certamente este não é assunto para se pensar. É preciso viver. Viva.
No imperativo.
Esse texto é pra você.

terça-feira, 21 de julho de 2009

Escrever...pra quê?

“Escrever é sempre esconder algo de modo que mais tarde seja descoberto”
Ítalo Calvino

O que me causa estranhamento?
Um insight (ideia fora de hora) que tive e que ainda não consigo responder... O que me causa estranhamento?!?! Eureka!!!O processo de escrita me causa estranhamento. Me incomoda, me choca e, ilogicamente, corresponde às minhas necessidades.
Há muito tempo penso em escrever com dedicação, consciência e disciplina já que acredito que para escrever bem é necessário muito mais de trabalho do que de inspiração. Escrita é trabalho. Há muito me interesso pela escrita ficcional, ainda que pareça mais fácil escrever sobre mim mesmo e aquilo que me acontece cotidianamente. A escrita diária permite que notemos com mais atenção como nossa vida é povoada de fatos inusitados e de atores com personagens interessantes. Somos personagens, vilões e mocinhos, de nossa própria existência. Mas pela dúvida entre escrever ficção ou sobre realidade (e também pela preguiça) nunca escrevi. Quando adolescente, dizia muitas vezes que um dia (não sei quando, até hoje) iria escrever um livro com minhas memórias, uma tentativa que já nasce fracassada de contar como vejo minhas coisas e meu louco tempo.
Esse texto surgiu depois que falei com Sarinha que estava brincando de escrever e ele ofereceu um espacinho em seu blog para que eu me objetivasse...resolvi criar coragem e fazer o meu blog.Ah...objetivasse?!?! Tornasse aquilo que penso um objeto, uma coisa... Que se tornasse real, ainda que no mundo virtual minhas palavras. Palavra-coisa.
O produto da discussão sobre escrever sobre aquilo que é real ou aquilo que é ficcional é expressa de um modo muito interessante e belo num livro que acabo de reler: “Uma vida inventada (memórias trocadas e outras histórias)”, de Maitê Proença (sim...da atriz Maitê Proença que escreve muito bem.Intensa.Lírica.). Um livro interessantíssimo em que não percebemos bem ao certo onde se encerra a realidade e quando ela dá lugar à ficção. Um livro fantástico em que a realidade dialoga com a imaginação e que nos mobiliza a perceber o quanto aquilo que chamamos de real tem de mágica ficcional. O quanto aquilo que vivemos quando contado e exposto no papel se torna uma outra realidade que supera a miséria – não é bem essa a palavra – de nossa dimensão humana. O quanto da realidade esconde de ficção, e vice-versa.
A escrita me causa estranhamento por apontar aquilo que é essencialmente humano.
Às vezes, sinto quase que uma necessidade física, biológica de escrever algo. Humano. De dizer, de gritar, mas para isto é preciso coragem e força para mobilizar-se, libertar-se de amarras (ainda que não-percebidas ou invisíveis). Por que escrever? Ainda não sei. Mas hoje se faz necessário. Urgente.
Cursar Psicologia não me deixa isento de pensar sobre as causas (não falo de etiologia psíquica de patologias) – pelo contrário – e por isso, acredito que há nessa atividade algo de catártico (no sentido leigo do termo). Terapêutico. Um meio de canalização de meus pensamentos que frequentemente assumem caráter de não-linearidade. Sinto necessidade de escrever, de dizer: uma dúvida, um pensamento, uma estória, um fato, um pedido. De me organizar, de dar lógica racional ao que é irracional. A existência. Irracional. Irascível. Enfim. Tentar elucidar algo que ainda não sei bem...discussão profunda e inconclusa com uma linguagem pretensamente profunda,mas fracassada.
Como trilheiro que se embrenha em uma floresta desconhecida, escrevo sem saber muito bem de onde saio; certamente, sem saber onde chegarei; sabendo somente que há um caminho a percorrer. Escrita,caminho escondido que só se revelará ao final.

Ah...pra quem não conhece Ítalo Calvino: autor nascido em Cuba, que viveu toda sua vida na Itália. E leiam Maitê Proença, ela é ótima.