quinta-feira, 30 de julho de 2009

O fim das férias e as divagações de um pretenso psicólogo

Um belo dia de sol e calor. Dias quentes e de céu azul encerram minhas férias de julho – apesar do calor, as férias são de inverno -, marcam o início do meu quarto período (!) na universidade e o reencontro com meus colegas de sala e calouros. Reencontro. O fim das férias traz consigo (além das aulas, obviamente), a opção que fiz para minha futura vida profissional e, sobretudo, como modo de vida. A cada dia, percebo mais claramente que estudar Psicologia pode representar a escolha por um estilo de vida. Falo sobre isso não somente por observar a variedade de estilos de professores, mas por conhecer um pouco da heterogeneidade de meus colegas de sala, das inúmeras opiniões distribuídas entre aproximadamente 25 pessoas e das diferenças entre o pensamento de meus amigos, calouros ou veteranos, e aquele que defendo, ainda que não muito bem.
Com o retorno das aulas, vou me encontrar novamente com aqueles que há um ano e meio optaram comigo por estudar Psicologia e com aqueles que conheço há um semestre e com os quais me vinculei, intensa e inesperadamente. Ainda que convivamos com uma freqüência constante muitos deles não sei quem são. Quem são esses? Quem são esses que cursam Psicologia?
Desde 2008, estou na faculdade e parece que o curso ainda não começou. Será assim até o fim? Será que no fim do curso vou descobrir que sei quase nada ainda que tenha lido, vivido e, provavelmente, estudado bastante? A probabilidade de acerto é grande, uma vez que não há somente uma prática de saber psicológico. Psicanalistas freudianos, junguianos, lacanianos, kleinianos; behavioristas metodológicos, radicais; fenomenólogos existenciais, humanistas; gestaltistas...Infinitos fazeres que refletem a diversidade humana e que mudam profundamente nosso jeito de ver o mundo e suas coisas. Um universo escondido em uma sala de aula, em meus amigos, em cada teoria... a beleza de ser e trabalhar o humano.
Quem são esses que cursam Psicologia? Espero que apaixonados pela vida humana.

Psicologias...um dia vou entender disso.

terça-feira, 28 de julho de 2009

Era uma vez...

Sarinha, esse texto é seu...
"Era uma vez uma menina. Uma menina chamada Morena, que morava no interior, gostava de brincar com seus primos e amava os animais. Gostava de verdade...gostava de ir para o sítio que a família tinha próximo da cidade só para brincar com os cavalos, com os cachorrinhos e,acima de tudo, com os patos.
Ventava.Era uma tarde de sol e céu azul, ventava bastante e parecia que o tempo ia mudar, o Pai - que tinha ido até o sítio buscar verduras e legumes para serem vendidos na cidade- trouxe para Morena um presente. Um patinho.
- Um patinho, papai. Que lindo!
- É pra você, minha menina.
- Obrigada.
Um patinho que tinha nascido há menos de uma semana e que era realmente uma gracinha. Um patinho lindo.O Patinho.Brincaram, brincaram e a menina se divertiu como nunca. Morena brincou com ele a tarde toda e não queria deixá-lo quando chegou a hora de tomar banho, jantar e dormir...
- Mas papai...
- Deixa,Morena. Amanhã você vai poder brincar com ele o dia inteirinho...
Mas o Pai se enganou. O vento da tarde anterior trouxe nuvens e frio, o Patinho acordou abatido e distante...nem parecia aquele patinho alegre e ativo do dia anterior. Não queria comer... Triste.
Morena ficou com o Patinho durante todo o dia : deu comida e água na boca, ou melhor, no bico...Morena lhe deu carinho e afeto. Mas, ele parecia não melhorar, pelo contrário, estava cada vez pior... O dia passou assim.
...
- Papai...
- Vamos, menina. Já é tarde... Vá se deitar! - e ela foi.
Mais um dia acordou, o Patinho dormiu.
A menina sonhou.
E foram felizes."

segunda-feira, 27 de julho de 2009

Considerações (muito pessoais) sobre suicídio

"Olhei até ficar cansado de ver os meus olhos no espelho,
Chorei por ter despedaçado as flores que estão no canteiro(...)
A dor vai curar estas lástimas."

?

Suicídio. Em apenas dois meses, dois primos tentaram suicídio: um do lado paterno, outro do lado materno. Dois primos fracassaram na tentativa de pôr fim à vida, além de ficarem com o estigma (familiar) daqueles que quiseram morrer e agiram em direção a isso. Cada qual quis adiantar próprio fim por motivos e meios diferentes. Os motivos são pessoais demais, mas os meios não: a primeira, tomou um coquetel de remédios e se alcoolizou - foi encontrada desmaiada em casa e encaminhada para um hospital -; o outro se alcoolizou, saiu sem rumo pela rodovia e foi pego pela polícia (penso que não queria se matar, mas ser morto por um outro carro.Fracasso.). Fracasso na tentativa de pôr fim em si mesmo e mais um problema para resolver (agora, com o núcleo familiar mais próximo). Por que tentaram se matar?
- Por que as pessoas se matam? - pergunta o aluno, disciplinado.
- Para pôr fim em uma dor maior que o próprio existir. - responde o professor, leigo.
E por que não aceitaram aquela que era, até então, a última vontade de meus primos? - pergunto eu, curioso.
Acredito que suicidar-se é mais que colocar fim, de matar uma dor, pelo contrário é eternizar a dor com a morte do sujeito. Suicidar-se é dar papel de protagonista ao seu próprio sofrimento - um sofrimento que exige que tudo seja coadjuvante à sua atuação. O motivo. Os meios. O próprio sujeito...o eu-sofredor deve prevalecer ainda que tudo sucumba.
Ver dois primos jovens (a mais velha, com 30 anos) tentarem se matar, me faz perguntar quais são as dores que fariam que eu me matasse. Longe de mim! A vida pra mim não é opção, é condição: vivo independente de meu querer... e sou muito feliz assim. Mas posso escolher como vivo. Posso enfrentar as intempéries do meu viver ou me submeter a elas - ainda que me martirize, me puna e sofra, escolho a primeira opção. Acredito que o suicídio pode sinalizar um fracasso no modo pelo qual decidi levar a vida.
Quanto aos meus primos, estão bem (acho, não convivo muito com eles).
Me matar? Nããão.
A vida é boa demais, contudo. Com tudo.

sábado, 25 de julho de 2009

Entre o msn e meus pensamentos

"A vida inteira eu quis um verso simples..."
Por motivos que conheço bem, nunca fui muito fã de computador e adepto das frequentes,infinitas e inevitáveis inovações tecnológicas (aliás,nem gosto muito do controle que elas podem exercer sobre nós).Prova disso é que relutei por anos para não me tornar vítima do celular ou do msn. Hoje sou dependente dos dois, particularmente, do segundo.Conversas via msn.Não acredito, por um lado, que o msn seja um meio de comunicação tão eficiente quanto parece (concordando com um amigo), todavia, durante essas férias ele tem se apresentado como uma ferramenta muito útil para manter contato com pessoas importantes pra mim e que têm colocado questões que me levam a pensar - como sempre. É impossível não pensar.Vale ressaltar que não é um pensar sistemático,mas muito mais ficar revendo situações,imaginar outras...ou seja,não fazer algo com tanto peso no acertar ou no estar correto - afinal, férias são para isso.Para ócio.Imaginativo.Enfim,uma das questões diz respeito a diferença,ou melhor,as diferenças na manutenção de um relacionamento.
Duvido que exista alguém que não tenha pensado ao menos uma vez: "Os opostos realmente se atraem?" ou, então, "Será que eu daria certo com alguém parecido comigo?".Não sei se seria tão fácil quanto parece conviver com o próprio espelho encarnado no companheiro...conviver com as próprias falhas, exageros e fraquezas com uma frequência quase incômoda,mas também acho difícil conviver com alguém que se oponha totalmente ao meu jeito de ser. Em suma, relacionar-se pode ser algo muito complicado.Depende das pessoas.Duas.Ou melhor,da pessoa.Uma.
Quando estamos em uma situação nova, inevitavelmente, nos juntamos com aquilo que é parecido conosco pela facilidade de convivência; é mais fácil nos adequarmos com nossos pares. Com o tempo,podemos perceber que o parecido não é tao semelhante quanto parecia e, então, vem o doloroso afastamento que aparentemente acontece de uma hora pra outra. E nos adequamos com outros.
Mas a dinâmica pode ser outra: incompreensivelmente,somos atraídos pelo contrário, pelo oposto e aí a química funciona.Os opostos se atraem e podem até se completar.Como saber qual a concentração adequada para que o que reage perfeitamente não se torne algo explosivo? Não há como saber,salvo se experimentarmos. É preciso experimentar...pode ser que dê certo.Aquilo que aparentemente se opõe pode atrair e criar um laço difícil de ser desatado...pode ser que dê certo.Pode atrair.Sensivelmente.Fascínio da rota.Caminhos da vida.
Pensei,pensei e não cheguei a conclusão alguma - como na maioria das vezes - mas certamente este não é assunto para se pensar. É preciso viver. Viva.
No imperativo.
Esse texto é pra você.

terça-feira, 21 de julho de 2009

Escrever...pra quê?

“Escrever é sempre esconder algo de modo que mais tarde seja descoberto”
Ítalo Calvino

O que me causa estranhamento?
Um insight (ideia fora de hora) que tive e que ainda não consigo responder... O que me causa estranhamento?!?! Eureka!!!O processo de escrita me causa estranhamento. Me incomoda, me choca e, ilogicamente, corresponde às minhas necessidades.
Há muito tempo penso em escrever com dedicação, consciência e disciplina já que acredito que para escrever bem é necessário muito mais de trabalho do que de inspiração. Escrita é trabalho. Há muito me interesso pela escrita ficcional, ainda que pareça mais fácil escrever sobre mim mesmo e aquilo que me acontece cotidianamente. A escrita diária permite que notemos com mais atenção como nossa vida é povoada de fatos inusitados e de atores com personagens interessantes. Somos personagens, vilões e mocinhos, de nossa própria existência. Mas pela dúvida entre escrever ficção ou sobre realidade (e também pela preguiça) nunca escrevi. Quando adolescente, dizia muitas vezes que um dia (não sei quando, até hoje) iria escrever um livro com minhas memórias, uma tentativa que já nasce fracassada de contar como vejo minhas coisas e meu louco tempo.
Esse texto surgiu depois que falei com Sarinha que estava brincando de escrever e ele ofereceu um espacinho em seu blog para que eu me objetivasse...resolvi criar coragem e fazer o meu blog.Ah...objetivasse?!?! Tornasse aquilo que penso um objeto, uma coisa... Que se tornasse real, ainda que no mundo virtual minhas palavras. Palavra-coisa.
O produto da discussão sobre escrever sobre aquilo que é real ou aquilo que é ficcional é expressa de um modo muito interessante e belo num livro que acabo de reler: “Uma vida inventada (memórias trocadas e outras histórias)”, de Maitê Proença (sim...da atriz Maitê Proença que escreve muito bem.Intensa.Lírica.). Um livro interessantíssimo em que não percebemos bem ao certo onde se encerra a realidade e quando ela dá lugar à ficção. Um livro fantástico em que a realidade dialoga com a imaginação e que nos mobiliza a perceber o quanto aquilo que chamamos de real tem de mágica ficcional. O quanto aquilo que vivemos quando contado e exposto no papel se torna uma outra realidade que supera a miséria – não é bem essa a palavra – de nossa dimensão humana. O quanto da realidade esconde de ficção, e vice-versa.
A escrita me causa estranhamento por apontar aquilo que é essencialmente humano.
Às vezes, sinto quase que uma necessidade física, biológica de escrever algo. Humano. De dizer, de gritar, mas para isto é preciso coragem e força para mobilizar-se, libertar-se de amarras (ainda que não-percebidas ou invisíveis). Por que escrever? Ainda não sei. Mas hoje se faz necessário. Urgente.
Cursar Psicologia não me deixa isento de pensar sobre as causas (não falo de etiologia psíquica de patologias) – pelo contrário – e por isso, acredito que há nessa atividade algo de catártico (no sentido leigo do termo). Terapêutico. Um meio de canalização de meus pensamentos que frequentemente assumem caráter de não-linearidade. Sinto necessidade de escrever, de dizer: uma dúvida, um pensamento, uma estória, um fato, um pedido. De me organizar, de dar lógica racional ao que é irracional. A existência. Irracional. Irascível. Enfim. Tentar elucidar algo que ainda não sei bem...discussão profunda e inconclusa com uma linguagem pretensamente profunda,mas fracassada.
Como trilheiro que se embrenha em uma floresta desconhecida, escrevo sem saber muito bem de onde saio; certamente, sem saber onde chegarei; sabendo somente que há um caminho a percorrer. Escrita,caminho escondido que só se revelará ao final.

Ah...pra quem não conhece Ítalo Calvino: autor nascido em Cuba, que viveu toda sua vida na Itália. E leiam Maitê Proença, ela é ótima.