domingo, 30 de agosto de 2009

Fome, trabalho e arte

Nos últimos dias, aconteceu em São João del Rei o Terceiro Festival de Literatura (FELIT) que contou com a presença de um dos autores que marcaram minha leitura há alguns anos, Frei Betto. Ele falou sobre arte e literatura, sobre nossa fome de beleza que é infindável (correspondendo assustadoramente a alguns) e me convocando a escrever sobre isso.
Fome. Vontade de alimento. Voraz, feraz, veraz. Fome de beleza que é saciada por alguns instantes pela qualidade e cuidado em uma produção artística. Qualidade que está na capacidade de chamar atenção do espectador de algum modo. De implicá-lo, de fazê-lo mobilizar-se ainda que por breves instantes durante um espetáculo. Frequentemente, isso se expressa num ficar embasbacado e pôr-se a pensar, num rir descontraído, na iniciativa de uma pesquisa (ou, apenas, na sua intenção) ou o mero entreter-se. A beleza da obra de arte está em retirar-nos de nosso tempo e espaço, em fazer-nos ultrapassar nossa dimensão momentânea. Humana. Aparentemente universalizada. A obra de arte tem um caráter inebriador. Transcendente. Saciador. Feito para a transformação. Metamórfica.
Todos, ao menos uma vez, se admiraram e comoveram por algo. Na televisão, no teatro, na biblioteca, na rua. Com a vida. Sem perceber, se comove com o trabalho de alguém para que ele se inebriasse. Sim, trabalho. Arte é trabalho, é tarefa, é dedicação a uma atividade.
Segundo o dicionário Aurélio, arte é:
- capacidade ou atividade humana de criação plástica ou musical.
- habilidade, engenho.
- ofício (em especial, nas artes manuais)
É claro e evidente que a arte não se resume a uma definição de dicionário, mas ela permite observar dois fatos. O primeiro relaciona-se com a afirmação de que a arte é algo - essencialmente - humano e tende ao caráter de universalidade. Somente o homem consegue se expressar artisticamente, talvez por ser capaz de compreender e ultrapassar o material - aquilo que é físico na obra de arte - para atingir o que comove, pela emoção. Assemelhar-se ao criador, ainda que sob condição criatural. Em seguida, a percepção de que arte é engenho ou ofício, ou seja, é algo que exige trabalho e disciplinada ação. Possivelmente, existem exemplos históricos que me contradigam: gênios que, em um ímpeto, compuseram grandes obras, mas o que me implica é perceber que pelo trabalho esmerado o homem pode agir artisticamente, pode construir algo que implique outro homem. Construir e modificar perspectivas.
Pensar num mundo com arte, pensar num mundo eternamente faminto de beleza. Com impulso suficiente para buscar sua saciação. Mobilizado e envolvido com a sua existência. O FELIT acabou, mas deixou um gostinho marginal de quero mais. De trabalhar mais, de conversar mais, de ver mais. De ver e pensar sobre um mundo diferente, com mais reflexão. Mais humano em sua essência: um mundo de trabalho e arte. Trabalhar-te.
Trabalhar-te.
É preciso.

sábado, 29 de agosto de 2009

Ontem, hoje e por enquanto

Basta.
É preciso falar, mas por enquanto silencio.
É preciso dizer, mas ainda não sei como.
Há o que dizer, mas é preciso esperar.
Espere.
O tempo corre e a hora sempre chega.
A hora. De dizer.