sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Barroca Contemporaneidade

Na segunda quinzena do mês de julho, a cidade em que escolhi viver se alimentou com aquilo que há de essencialmente humano: a expressão artística. São João del Rei viveu dias de céu azul no clima que criado para a realização do 23 Inverno Cultural, evento que anualmente oferece à população local e aos turistas que por aqui se encontram a oportunidade de viver momentos repletos de atividades artísticas numa cidade que (pretensiosamente) é chamada capital brasileira da cultura – título que lhe foi concedido em 2007 e que gerou homenagem no evento daquele ano.
Depois de homenagear dois grandes nomes da cultura (afro)brasileira – Clara Nunes (2008) e Grande Otelo (2009) – fui surpreendido pelo convite que me foi feito neste ano: Paisagens Sonoras. Ouvir. Ver. Sentir. Um festival que, além de dar destaque ao modo como as expressões artísticas nos tocam, nos convidou a experimentá-lo. A nos experimentar. A experimentar. Experienciar. Experimente paisagens sonoras, foi este o convite.
Experiência: sentir o sabor que deixa – na boca, nos olhos, no coração. Talvez – a (não) tão barroca São João del Rei. Foi isso que tentei fazer.
Parece óbvio: paisagens sonoras não são feitas para serem somente vistas, são feitas para serem ouvidas e me assusto em perceber como o contemporâneo e o passado estiveram presentes no ambiente desse ano. O diálogo entre o cenário digitalizado do show de Rita Lee e o vizinho Teatro Municipal que assistiu impassível a apresentação de Marcelo D2.
Festival que trouxe a modernidade em seu símbolo: linhas concêntricas que se movimentam feito ondas sonoras. Ondas, vagas, vagues. A contemporaneidade da poesia do grupo Barkaça que subverte a lógica academicista da poesia, colocando-a no onde ela deve estar: no nosso contexto e que embriagou a Rua (Marechal Bittencourt) da Cachaça de poesia.
O evento passou como breve música, mostrando que há muito o que ouvir nessa cidade em que os sinos querem falar daquilo que não podemos ouvir.

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Já volto

Nos últimos dias, tenho (re)organizado textos que escrevi há algum tempo a fim de atualizar o blog - depois de bastante tempo de latência. Maturação, espero. Hoje ainda não publico um texto meu, mas um poema escrito por Marina Colasanti que achei por entre folhas de papel copiadas. Indicação de leitura: Fino Sangue, editora Rocco.
Ler Marina Colasanti sempre me impressiona: me impressiona o modo pelo qual uma mulher africana nascida com pés na Europa pode ser tão brasileira e universal. Seus textos são singelos e fortes. Textos femininos.
Marina Colasanti – vale a pena ler.

De caça a caçador
Para alcançar palavras que nos fogem
preciso é acarpetar os passos
velar de espesso véu nosso desejo
e esperá-los
calados,
de tocaia.
Sempre haverá um momento
de descuido
em que a palavra
recolhidas asas
pousará sobre a língua
e será nossa.
Entrementes
há que tomar cuidado.
Assim como as caçamos
palavras há também
em cada esquina
prontas
com unha e dente
a nos saltar em cima.