segunda-feira, 29 de março de 2010

"Retalhos de um desabafo" ou "ainda é possível viver assim?" ou "aos calouros"

1- “Faz tempo que não passava por aqui (mais uma vez fiquei tempos sem escrever e senti muita falta do que isso pode representar no meu cotidiano - e no cotidiano daqueles que, pacientemente, passam por aqui procurando algo de útil). A leitura e, por conseguinte, a escrita pessoal - o modo pelo qual lemos o mundo - me são muito importantes, mesmo que não o reconheça sempre. Tenho dificuldades em reconhecer a importância das coisas para mim. Resolvi voltar, não consigo pensar sem o discurso. Organizo melhor meu pensamento quando falo, discuto. No turbilhão de palavras e imagens, frases surgem. E se completam.”

2- “Nascemos e vivemos no mundo do discurso e, portanto, um mundo em que a interpretação se faz possível - e, na maioria das vezes, inevitável. O discurso artístico, em suas variadas versões, tem como um de seus aspectos mais cativantes a possibilidade de apresentação da realidade ora como ela é, ora como a vemos, ora como gostaríamos que ela fosse. Compete a nós a interpretação. Corremos o risco de interpretarmos errado, porém é mais justo que se interprete (ainda que em silêncio. Hipotético).”

1a – “Há menos de um mês as aulas recomeçaram e como o tempo passou rápido. Rápido?!? Talvez. Não acredito que o tempo tenha passado mais rápido que o normal já que pude fazer uma infinidade de coisas em um tempo "curto". Vocês já notaram que sempre estamos falando de tempo? O tempo passa e uma pergunta me vem como provocação: com que tenho gasto meu tempo? Tenho conversado pouco com pessoas que me importam, que fazem parte de minha vida e que quero bem. Tenho sentido falta disso e me incomoda entender até onde essa violência seguirá contra nós mesmos. Nos perdemos em nossas atividades e obrigações, perdemos o foco do que nos é, realmente, importante. Quero poder ficar de novo na janela falando de nada.”

3- “É inegável que vivemos no mundo da produção, seja ela material, econômica, científica ou cultural. Somos convocados a produzir sempre e, são raras as vezes em que, pensamos sobre o que produzimos. O que damos em resposta àquilo que a realidade em que vivemos nos dá. O que tenho entregue àqueles que dividem a própria história comigo? Não é nada bom quando perco o foco do que estou fazendo e o que resta no fim é um produto marcado pela (má) violência. Violência contra a minha vontade de ser inteiro.”

Antes de tudo: por que reler um livro?

(letras e números)


Nos últimos tempos tenho buscado ver a realidade com outros olhos, uma tentativa de ver o mundo com mais clareza. Sei que isso não é tão fácil - e para tanto conto com o apoio de amigos que se dispõe a me ouvir, nas minhas divagações. Não é fácil ver, uma vez que carregamos diante de nosso olhos óculos de preconceitos, opiniões e medos (parafraseando Frei Betto). De conhecer. De saber. De viver. É inusitado como situações surgem em nossas vidas sem que esperemos e nos fazem ver que um mundo diferente é possível. Viver não é algo que nos dado a priori, por isso não acredito que o destino exista, não nascemos com um caminho construído (com ínicio, meio e fim a cumprir) : algo que não deveria estar acontecendo, ainda me perturba. Há algo de agradável que me tem acontecido. Há esperança de que as coisas mudem; e ainda bem que ela existe porque se não existisse nada mais valeria a pena. Nem viver. É claro que não falo de morte física, falo de morte de algo significativo que nos comove e faz viver; nos convida a levantar-nos todos os dias ainda que saibamos que as coisas não serão tão fáceis quanto esperamos e desejamos.


“Falem comigo, ou melhor, dialogue comigo. preciso falar.”

Para meus amigos.