Há alguns meses, na universidade, existia um cartaz com uma provocadora citação de Machado de Assis: “livros relidos são livros eternos”. Sim, livros relidos são eternos assim como qualquer outro. Todo livro é eterno, seja ele lido, relido ou não; ele é perene porque pode guardar consigo o olhar de (e sobre) um tempo, numa tentativa que fazemos de assegurarmos que seremos para sempre, por meio daquilo que deixamos escrito. Para além da nossa errância. Uma tentativa (como infinitas outras) de nos tornarmos concretos, historicamente reais. Livros são eternos, ainda que a leitura que façamos deles não o seja; então, por que relemos?
Relemos pelo prazer da leitura, superação de tempo e espaço. Relemos porque queremos reativar algo que sentimos quando lemos uma obra pela primeira vez. Relemos porque nos esquecemos do argumento ou fio condutor do livro. Relemos para nos lembrar de fatos que ocorreram simultaneamente à leitura daquele texto. Porque ele nos lembra alguém. Enfim, na maioria das vezes, relemos para lembrar. Porém, nos últimos dias, reli pelo prazer e também para entender uma resposta. Entendo melhor.
Luísa (Quase uma história de amor). Maria Adelaide do Amaral. Já havia lido alguns (outros três, somente) livros dessa autora portuguesa que se radicou no Brasil ainda menina e se fez célebre pelas peças de teatro e minisséries, as últimas produzidas pela Globo. Aos meus amigos – romance que deu origem a minissérie – Tharsila – uma homenagem teatral à pintora, do Amaral – e a novela O Bruxo. Autora de um texto poético e enxuto sem que ele se torne árduo e lento, Maria Adelaide parece conseguir atingir aquilo que é comum na geração daqueles que viveram a ditadura militar brasileira, a busca de um sentido válido nos dias de hoje, sem deixar de comover leitores que não viveram aquela época, como eu. “Luísa” é um livro em que a protagonista não se manifesta, a conhecemos por meio daquilo que seu círculo de convivência (nem sempre amiga) diz, de sua correspondência (bilhetes trocados), e dos rascunhos de sua agenda. Uma protagonista não aparente parece tornar a narrativa sem sentido e (até) ilógica, todavia não é isso que acontece: ela se faz conhecer no enigma, no jogo de esconde-e-mostra, no brincar entre a luz e a sombra. É belo, pois a vida é assim: um brincar incessante de se dar e se esconder. Caminhamos pelas páginas tentando entrever Luísa em algum detalhe. Ela me é instigante, porque não se dá claramente, inteira e me convida sempre à pergunta. Ao fim das páginas, consigo vê-la rapidamente. Mas não a conheço, completamente.
É fabuloso perceber em páginas impressas aquilo que vivemos; escrever – para quem o faz bem, é claro – tem algo de profético porque aponta para aquilo que é claro, e por ser claro é difícil de ser visto. Ela atrai porque não se dá inteira e acabada, pronta. Convida ao diálogo e ao fazer companhia sem motivos ou objetivos. Ver-se diante da beleza do estar junto e se alegrar.
Reli buscando uma resposta. Encontrei.
“Quanto à adversidade de nosso destino, devo concordar com você. Podemos ser tudo, menos timoneiros de nosso barco. Tragados pela moira, impelidos (e impedidos) pelas circunstâncias, não passamos de pequenos títeres com efêmeras impressões de onipotência e, definitivamente, no limite da sobrevivência.” (pp. 219)
Relemos pelo prazer da leitura, superação de tempo e espaço. Relemos porque queremos reativar algo que sentimos quando lemos uma obra pela primeira vez. Relemos porque nos esquecemos do argumento ou fio condutor do livro. Relemos para nos lembrar de fatos que ocorreram simultaneamente à leitura daquele texto. Porque ele nos lembra alguém. Enfim, na maioria das vezes, relemos para lembrar. Porém, nos últimos dias, reli pelo prazer e também para entender uma resposta. Entendo melhor.
Luísa (Quase uma história de amor). Maria Adelaide do Amaral. Já havia lido alguns (outros três, somente) livros dessa autora portuguesa que se radicou no Brasil ainda menina e se fez célebre pelas peças de teatro e minisséries, as últimas produzidas pela Globo. Aos meus amigos – romance que deu origem a minissérie – Tharsila – uma homenagem teatral à pintora, do Amaral – e a novela O Bruxo. Autora de um texto poético e enxuto sem que ele se torne árduo e lento, Maria Adelaide parece conseguir atingir aquilo que é comum na geração daqueles que viveram a ditadura militar brasileira, a busca de um sentido válido nos dias de hoje, sem deixar de comover leitores que não viveram aquela época, como eu. “Luísa” é um livro em que a protagonista não se manifesta, a conhecemos por meio daquilo que seu círculo de convivência (nem sempre amiga) diz, de sua correspondência (bilhetes trocados), e dos rascunhos de sua agenda. Uma protagonista não aparente parece tornar a narrativa sem sentido e (até) ilógica, todavia não é isso que acontece: ela se faz conhecer no enigma, no jogo de esconde-e-mostra, no brincar entre a luz e a sombra. É belo, pois a vida é assim: um brincar incessante de se dar e se esconder. Caminhamos pelas páginas tentando entrever Luísa em algum detalhe. Ela me é instigante, porque não se dá claramente, inteira e me convida sempre à pergunta. Ao fim das páginas, consigo vê-la rapidamente. Mas não a conheço, completamente.
É fabuloso perceber em páginas impressas aquilo que vivemos; escrever – para quem o faz bem, é claro – tem algo de profético porque aponta para aquilo que é claro, e por ser claro é difícil de ser visto. Ela atrai porque não se dá inteira e acabada, pronta. Convida ao diálogo e ao fazer companhia sem motivos ou objetivos. Ver-se diante da beleza do estar junto e se alegrar.
Reli buscando uma resposta. Encontrei.
“Quanto à adversidade de nosso destino, devo concordar com você. Podemos ser tudo, menos timoneiros de nosso barco. Tragados pela moira, impelidos (e impedidos) pelas circunstâncias, não passamos de pequenos títeres com efêmeras impressões de onipotência e, definitivamente, no limite da sobrevivência.” (pp. 219)