21 de setembro. O inverno se vai com a chuva, e é ela quem traz a primavera. O zigue-zague manhoso do tempo. A destreza da vida. Há alguns dias não escrevia, não por falta de vontade, mas por não ter encontrado algo que quisesse compartilhar, realmente. Suficientemente justo. E confesso que (hoje) escrevo sobre algo que já foi compartilhado. Isto não me representa um problema, pelo contrário. Representa o fruto de um diálogo - mais do que uma conversa - que não acontece com qualquer pessoa e não pode acontecer quando estamos preocupados com a hora ou com compromissos que deveriam ser respeitados, mesmo que a contragosto. Tenho aprendido que não é necessário agir contra a vontade. Diálogos demandam tempo. E são, cada vez mais, necessários.
O dia seguia como o planejado, nada fora do comum. Para minha cômoda satisfação. Deveria ir até o outro campus para resolver algumas questões e sou pego pela chuva no meio do caminho. Chuva muito forte e incomum para essa época do ano, mas que me permitiu uma experiência inusitada e, por isso, enriquecedora. O inusitado nos enriquece porque se choca com nossa realidade, faz com que ela se modifique. Se transmute essencialmente. Fico preso por alguns minutos com o grupo de alemães que em karawane visitam a universidade onde estudo e me assusto com nossa similaridade.
Somos muito diferentes por vários motivos: o lugar onde nascemos e nossa aparência física, nossa educação e modo de vida, o idioma que falamos e o consequente modo como (vi)vemos o mundo. Somos diferentes e intimamente comuns. Sou um completo leigo em língua alemã e quando não conseguimos nos envolver na conversa alheia, o que fazemos? Passamos a observá-los. E como é bom observar desprentenciosamente. Observei os alemães por alguns instantes, silenciosamente - ainda que com uma louca vontade de interagir com eles. Observei-os e superei a barreira idiomática e indo de encontro ao mundo babélico os compreendi. A língua não nos dividiu, aliás, a falta dessa compreensão permitiu que eu me juntasse com eles. Eles falavam entre si: alemão, inglês e espanhol, e incrivelmente se comunicavam, se faziam entender pela universalidade do gesto. O gesto do afeto. O gesto de defesa. O gesto de compreensão. Um gesto de desamparo: um grupo de pessoas em um mundo de significados que não é o deles e que, ainda assim, se fazem entender. Magicamente. Porque inexplicável. A doçura do gesto que supera a palavra falada, já que esta é apenas ferramenta para a conversa. O diálogo é do campo dos gestos que, mesmo sendo primitivos, apontam para o simples, para o essencial.
Dialogar é colocar-se inteiro, com seus gestos. Dialogar é dar-se no olhar.Como presente. Utilizar a palavra para atingir (ou ao menos tentar) aquilo que está para além dela. Para dialogar, não é preciso palavras. No diálogo há espaço para aquilo que não cabe na conversa. Há uma trégua para o fundamentalmente necessário.
Precisamos de uma trégua. Dialogada.
O dia seguia como o planejado, nada fora do comum. Para minha cômoda satisfação. Deveria ir até o outro campus para resolver algumas questões e sou pego pela chuva no meio do caminho. Chuva muito forte e incomum para essa época do ano, mas que me permitiu uma experiência inusitada e, por isso, enriquecedora. O inusitado nos enriquece porque se choca com nossa realidade, faz com que ela se modifique. Se transmute essencialmente. Fico preso por alguns minutos com o grupo de alemães que em karawane visitam a universidade onde estudo e me assusto com nossa similaridade.
Somos muito diferentes por vários motivos: o lugar onde nascemos e nossa aparência física, nossa educação e modo de vida, o idioma que falamos e o consequente modo como (vi)vemos o mundo. Somos diferentes e intimamente comuns. Sou um completo leigo em língua alemã e quando não conseguimos nos envolver na conversa alheia, o que fazemos? Passamos a observá-los. E como é bom observar desprentenciosamente. Observei os alemães por alguns instantes, silenciosamente - ainda que com uma louca vontade de interagir com eles. Observei-os e superei a barreira idiomática e indo de encontro ao mundo babélico os compreendi. A língua não nos dividiu, aliás, a falta dessa compreensão permitiu que eu me juntasse com eles. Eles falavam entre si: alemão, inglês e espanhol, e incrivelmente se comunicavam, se faziam entender pela universalidade do gesto. O gesto do afeto. O gesto de defesa. O gesto de compreensão. Um gesto de desamparo: um grupo de pessoas em um mundo de significados que não é o deles e que, ainda assim, se fazem entender. Magicamente. Porque inexplicável. A doçura do gesto que supera a palavra falada, já que esta é apenas ferramenta para a conversa. O diálogo é do campo dos gestos que, mesmo sendo primitivos, apontam para o simples, para o essencial.
Dialogar é colocar-se inteiro, com seus gestos. Dialogar é dar-se no olhar.Como presente. Utilizar a palavra para atingir (ou ao menos tentar) aquilo que está para além dela. Para dialogar, não é preciso palavras. No diálogo há espaço para aquilo que não cabe na conversa. Há uma trégua para o fundamentalmente necessário.
Precisamos de uma trégua. Dialogada.